Apesar de ter uma experiência de décadas em assuntos da
qualidade; de ter criado áreas e departamentos de boas práticas e de garantia
da qualidade; de ter sido responsável direto pelo serviço de atendimento ao
consumidor (S.A.C.) em grandes indústrias farmacêuticas; de ter criado
Ouvidoria em autarquia federal, eu ainda me espanto com o que vejo no universo
de cuidados dedicados aos clientes, consumidores e usuários de produtos e
serviços. Isso, a bem da verdade, não somente no Brasil.
Neste artigo, dedico minhas letras à imagem de descaso que é
passada com cores fortes por algumas ouvidorias nacionais, sendo projetadas de
tal forma que provocam reações das mais variadas por parte dos usuários. Sorte
a nossa que isso é minoria; mas o fato é que minoria existe e machuca.
Uso aqui o termo “usuário”, uma vez que é assim que a lei
nos chama, quando utilizamos o serviço público. Refiro-me à Lei Nº 13.460, de
26 de junho de 2017 que dispõe sobre participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos da administração pública.
O descaso projetado é a falta de resposta! E eu já fui vítima de tal descaso!!!
Na lei, em seu “Capítulo III - das manifestações dos
usuários de serviços públicos”, em seu artigo 12, parágrafo único:
“A efetiva resolução das manifestações dos usuários
compreende:
I - recepção da manifestação no canal de atendimento
adequado;
II - emissão de comprovante de recebimento da manifestação;
III - análise e obtenção de informações, quando necessário;
IV - decisão administrativa final; e
V - ciência ao usuário.”
Destaco aqui: dar ciência ao usuário.
Na mesma lei, Art. 14 do Capítulo IV - das ouvidorias, “Com
vistas à realização de seus objetivos, as ouvidorias deverão: I - receber,
analisar e responder, por meio de mecanismos proativos e reativos, as
manifestações encaminhadas por usuários de serviços públicos,”
A falta de uma resposta, não fere apenas a esperança do
usuário, nem somente fere a reputação do serviço público. A falta de resposta
de uma Ouvidoria, fere uma lei.
Nós que lidamos, como profissionais, com sistemas da
qualidade e com boas práticas, precisamos ter atenção em casos assim, criando
mecanismos que possam impedir tal evento (a falta de resposta) tanto no meio
privado quanto no serviço público, em nome da imagem da instituição que
ajudamos a cuidar. Isso porque, mais do que antes, tanto clientes,
consumidores, como usuários estão mais cientes de seus direitos, mais
conhecedores das leis e mais predispostos e ativos para provocar as mudanças
que acreditam como corretas.
Tais figuras deixaram de chorar desoladas, sentadas no
meio-fio. Algumas, exatamente desconsoladas pela falta de resposta de uma
autarquia federal, estão reagindo dentro da civilidade, propondo ideias
legislativas que são ouvidas pelo Senado Federal e inspirando projetos de lei.
Respondamos a todos! Respondamos de acordo com a nossa
verdade! Até mesmo, quando declaramos, em bom e polido português, que a
manifestação do usuário não procede ou não tem cabimento, estaremos dando a ele
o mínimo de consideração!
Convenhamos que é exatamente isso que ele merece...
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